Itinerância da exposição "Guardar" do grupo de ceramistas Bando de Barro, que após permanecer no Jardim do Arquivo Público do Rio Grande do Sul será instalada no Jardim do Museu Histórico de Santa Catarina, em dezembro de 2010.

30 de junho de 2010

Idéias

"As idéias não são para guardar; alguma coisa tem que ser feito com elas."

Alfred North Whitehead [1861-1947]
Filósofo inglês

Fonte: http://www.citador.pt/search.php

20 de junho de 2010

...toda pessoa deve ter três caixas para guardar...

PARA MARIA DE GRAÇA


Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti. Escuta: se não descobrires um sentido na loucura acabarás louca. Aprende, pois, logo de saída para a grande vida, a ler este livro como um simples manual do sentido evidente de todas as coisas, inclusive as loucas. Aprende isso a teu modo, pois te dou apenas umas poucas chaves entre milhares que abrem as portas da realidade.

A realidade, Maria, é louca. Nem o Papa, ninguém no mundo, pode responder sem pestanejar à pergunta que Alice faz à gatinha: "Fala a verdade, Dinah, já comeste um morcego?" Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. "Quem sou eu no mundo?" Essa indagação perplexa é o lugar-comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrares essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás. Não importa qual seja a resposta; o importante é dar ou inventar uma resposta. Ainda que seja mentira. A sozinhez (esquece essa palavra que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: "Estou tão cansada de estar aqui sozinha!" O importante é que ela conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice-versa, isto é, fechar uma porta bem aberta.


Somos todos tão bobos, Maria. Praticamos uma ação trivial e temos a presunção petulante de esperar dela grandes conseqüências. Quando Alice comeu o bolo, e não cresceu de tamanho, ficou no maior dos espantos. Apesar de ser isso o que acontece, geralmente, às pessoas que comem bolo. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes por dia: "Oh, I beg your pardon!" Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para tua sabedoria de bolso: se gosta de gatos, experimenta o ponto de vista do rato. Foi o que o rato perguntou à Alice: "Gostarias de gatos se fosses eu?"


Os homens vivem apostando corrida, Maria. Nos escritórios, nos negócios, na política, nacional e internacional, nos clubes, nos bares, nas artes, na literatura, até amigos, até irmãos, até marido e mulher, até namorados, todos vivem apostando corrida. São competições tão confusas, tão cheias de truques, tão desnecessárias, tão fingindo que não é, tão ridículas muitas vezes, por caminhos tão escondidos, que, quando os atletas chegam exaustos a um ponto, costumam perguntar: "A corrida terminou! Mas quem ganhou ?" É bobice, Maria da Graça, disputar uma corrida se a gente não irá saber quem venceu. Se tiveres de ir a algum lugar, não te preocupe a vaidade fatigante de ser a primeira a chegar. Se chegares sempre aonde quiseres, ganhaste. Disse o ratinho: "Minha história é longa e triste!" Ouvirás isso milhares de vezes. Como ouvirás a terrível variante: "Minha vida daria um romance". Ora, como todas as vidas vividas até o fim são longas e tristes, e como todas as vidas dariam romances, pois o romance é só o jeito de contar uma vida, foge, polida mas energicamente, dos homens e das mulheres que suspiram e dizem: "Minha vida daria um romance!" Sobretudo dos homens. Uns chatos irremediáveis, Maria.

Os milagres sempre acontecem na vida de cada um e na vida de todos. Mas, ao contrário do que se pensa, os melhores e mais fundos milagres não acontecem de repente, mas devagar, muito devagar. Quero dizer o seguinte: a palavra depressão cairá de moda mais cedo ou mais tarde. Como talvez seja mais tarde, prepara-te para a visita do monstro, e não te desesperes ao triste pensamento de Alice: "Devo estar diminuindo de novo". Em algum lugar há cogumelos que nos fazem crescer novamente. E escuta esta parábola perfeita: Alice tinha diminuído tanto de tamanho que tomou um camundongo por um hipopótamo. Isso acontece muito, Mariazinha. Mas não sejamos ingênuos, pois o contrário também acontece. E é um outro escritor inglês que nos fala mais ou menos assim: o camundongo que expulsamos ontem passou a ser hoje um terrível rinoceronte. É isso mesmo. A alma da gente é uma máquina complicada que produz durante a vida uma quantidade imensa de camundongos que parecem hipopótamos e de rinocerontes que parecem camundongos. O jeito é rir no caso da primeira confusão e ficar bem disposto para enfrentar o rinoceronte que entrou em nossos domínios disfarçado de camundongo. E como tomar o pequeno por grande e o grande por pequeno é sempre meio cômico, nunca devemos perder o bom humor.

Toda pessoa deve ter três caixas para guardar humor: uma caixa grande para o humor mais ou menos barato que a gente gasta na rua com os outros; uma caixa média para o humor que a gente precisa ter quando está sozinho, para perdoares a ti mesma, para rires de ti mesma; por fim, uma caixinha preciosa, muito escondida, para as grandes ocasiões. Chamo de grandes ocasiões os momentos perigosos em que estamos cheios de dor ou de vaidade, em que sofremos a tentação de achar que fracassamos ou triunfamos, em que nos sentimos umas drogas ou muito bacanas. Cuidado, Maria, com as grandes ocasiões. Por fim, mais uma palavra de bolso: às vezes uma pessoa se abandona de tal forma ao sofrimento, com uma tal complacência, que tem medo de não poder sair de lá. A dor também tem o seu feitiço, e este se vira contra o enfeitiçado. Por isso Alice, depois de ter chorado um lago, pensava: "Agora serei castigada, afogando-me em minhas próprias lágrimas". Conclusão: a própria dor deve ter a sua medida: é feio, é imodesto, é vão, é perigoso ultrapassar a fronteira de nossa dor, Maria da Graça.

 

Paulo Mendes Campos

18 de junho de 2010

Floripa


Foto: Andrey Santos

7 de junho de 2010

SETENTA E CINCO

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Adolfo Bittencourt - Porto Alegre, RS
Adriana Andricopulo - Porto Alegre, RS
Adriana Daccache - Porto Alegre, RS
Alexandra Eckert - Porto Alegre, RS
Alexandre Copês - Porto Alegre, RS
Anelise Bredow - Morro Reuter, RS
Antônio Augusto Bueno - Porto Alegre, RS
Betânia Silveira - Florianópolis, SC
Caren Czerwinski - Porto Alegre, RS
Carlos Negrão - Porto Alegre, RS
Cinthia Sfoggia - Porto Alegre, RS
Claudia Flores - Porto Alegre, RS
Cláudia Zanatta - Porto Alegre, RS
Cláudia Zart - Lajeado, RS
Cléa Espindola - Florianópolis, SC
Cynthia Gavião - Gonçalves, MG
Ellen Röpke Ferrando - Porto Alegre, RS
Emília Gontow - Porto Alegre, RS
Fernanda Barroso - Porto Alegre, RS
Fernando Baddo - Porto Alegre, RS
Gilberto Menegaz - Porto Alegre, RS
Gustavo Possamái - Porto Alegre, RS
Helena Valentim - São José, SC
Heloísa Alvim - Montferrier, França
Ilca Barcellos - Florianópolis, SC
Izane Schul - Porto Alegre, RS
João Goedert - Porto Alegre, RS
Juliana Bassani - Porto Alegre, RS
Jussara Silva - Florianópolis, SC
Karen Meersohn-Abkarian - Montpellier, França
Kathia Hak - Florianópolis, SC
Keiko Wada - Porto Alegre, RS
Lisi Rabello - Porto Alegre, RS
Luciane Durazzo - Grupo Iandé - São Paulo, SP
Luciane Garcez - Florianópolis, SC
Luíz Carlos Canabarro Machado - Florianópolis, SC
Luiza Christ - Florianópolis, SC
Maia Mena Barreto - Porto Alegre, RS
Márcia Cristina Sawitzki - Torres, RS
Marcia Limani - Rio de Janeiro, RJ
Marco Fronckowiak - Porto Alegre, RS
Maria Cheung - Foz do Iguaçu, PR
Maria Ester Fontoura - Porto Alegre, RS
Maria Teresa Camacho Bittencourt - Florianópolis, SC
Mariana Rutenberg - Porto Alegre, RS
Marilene Borges Sant'Anna - Porto Alegre, RS
Marília Diaz - Curitiba, PR
Marina Takase - Palhoça, SC
Maryl Rodrigues - Porto Alegre,RS
Megumi Yuasa - Grupo Iandé - São Paulo, SP
Milena Kunrath - Porto Alegre, RS
Miriam Gomes - Porto Alegre, RS
Nadmea Carvalho - Porto Alegre, RS
Nazir de Farias - Florianópolis, SC
Nico Giuliano - Porto Alegre, RS
Patrícia Amantino Estivallet - Porto Belo, SC
Raquel Klepacz - Sao Paulo, SP
Reginaldo Porto Alegre - Porto Alegre, RS
Ricardo Ávila - Florianópolis, SC
Rita (Canemba) - Florianópolis, SC
Roberto Bitencourt - Porto Alegre, RS
Rodrigo Núñez - Porto Alegre, RS
Rosilda Sá - João Pessoa, PB
Rosana Bortolin - Florianópolis, SC
Rosângela Rosa - Florianópolis, SC
Sandra Lagua - Grupo Iandé - São Paulo, SP
Sara Ramos - Florianópolis, SC
Silvina Gallo - Florianópolis, SC
Simone Nassif - Porto Alegre, RS
Solange Simas - Joinville, SC
Sonia Bogaz - São Paulo, SP
Stella Valim - Porto Alegre, RS
Tânia Corrêa - Florianópolis, SC
Tânia Ramires - Florianópolis, SC
Tereza Mello - Porto Alegre, RS

 
A "Comissão de Frente" agradece a participação de todos!!!!

(....um "Post scriptum" ....em vez de nova postagem a cada atualização da lista de participantes, iremos acrescentando aqui os nomes e colocando no título a contagem final...)

5 de junho de 2010

Guardar

A pedido, postamos aqui, a poesia que a Fernanda Barroso postou no blog da exposição

 "Guardar - Bando de Barro no Arquivo"...

...nela, o Antônio Cícero fala dos "guardados"....
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...
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GUARDAR

"Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.

Em cofre não se guarda coisa alguma.

Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso, melhor se guarda o vôo de um pássaro

Do que de um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema:

Para guardá-lo:

Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:

Guarde o que quer que guarda um poema:

Por isso o lance do poema:

Por guardar-se o que se quer guardar."

...

4 de junho de 2010

Mais sobre Cruz e Sousa

Rio de Janeiro: numa confeitaria elegante, nos anos de 1890, um grupo de escritores saúda, em voz alta, o jovem que se encontra à porta:


- Entra, ó Cruz e Sousa! Entra, ó grande poeta!


A ênfase dada à saudação explica-se por se tratar de um jovem negro, que corre o risco de ser ofendido, ou até escorraçado da confeitaria. A escravidão já fora abolida oficialmente, mas contra o preconceito não houve decreto, não houve lei...


João da Cruz e Sousa ouve a saudação dos amigos, até entende sua intenção de evitar-lhe uma situação constrangedora, mas fita-os com olhos tristes, como se pensasse: “Canalhas!” Tanto mais que, próximo ao grupo dos amigos e fiéis admiradores, encontra-se um rosto estranho, que o observa com olhar curioso, o que chega a ser irritante... Quem é esse homem desconhecido, que perscruta o poeta? Seria mais um dos seus contendores, provocadores, mais alguém prestes a repudiá-lo abertamente nos jornais?


Toda sua vida fora, até então, permeada por essa mesma sensação de discriminação, de rebaixamento. Até o modo afetivo como alguns de seus “seguidores” a ele se referem – o Poeta Negro – parece um estigma. Ninguém diz “poeta branco”. No Brasil escravocrata, “poeta” e “negro” são elementos que não se casam, indicam uma verdadeira aberração... Mas a dor de ser discriminado pode não ser muito diferente da grande Dor de ser homem.


Qual é a cor da minha forma, do meu sentir? Qual é a cor da tempestade de dilacerações que me abala? Qual a dos meus sonhos e gritos? Qual a dos meus desejos e febre?


Uma revolta amargurada o paralisa e, por algum (quanto?) tempo, suas atenções se deslocam do exterior, da confeitaria, do constrangimento, das amarras sociais, para o interior, sua alma, presa num cárcere severo. Às vezes é preciso invocar o ódio para suportar a dor:


Ò meu ódio, meu ódio majestoso,


Meu ódio santo e puro e benfazejo,


Unge-me a fronte com teu grande beijo,


Torna-me humilde e torna-me orgulhoso.


(...)

O poeta lembra-se de que sempre precisara de um escudo. Podia ser o Ódio. Podia ser a crença em si mesmo, na própria sensibilidade superior. Podia ser a Dor. O desdém pelos chamados “detentores” do poder e do saber, o desprezo pelos ditadores de regras. Podia ser a Arte, esse escudo, esse Broquel: esses Broquéis.
 
 
Para ler mais, consultar a fonte abaixo.
 
Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/cruz_e_sousa.htm

2 de junho de 2010

Vista da Catedral


Obrigado ao Andrey Santos que fez essa foto especialmente para nosso blog!

1 de junho de 2010

Nova contagem

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Agora somos 55!!!

No fim de semana postaremos os nomes dos participantes.

Obrigado a todos que toparam "Guardar no Jardim do Museu Histórico"!