Itinerância da exposição "Guardar" do grupo de ceramistas Bando de Barro, que após permanecer no Jardim do Arquivo Público do Rio Grande do Sul será instalada no Jardim do Museu Histórico de Santa Catarina, em dezembro de 2010.

4 de junho de 2010

Mais sobre Cruz e Sousa

Rio de Janeiro: numa confeitaria elegante, nos anos de 1890, um grupo de escritores saúda, em voz alta, o jovem que se encontra à porta:


- Entra, ó Cruz e Sousa! Entra, ó grande poeta!


A ênfase dada à saudação explica-se por se tratar de um jovem negro, que corre o risco de ser ofendido, ou até escorraçado da confeitaria. A escravidão já fora abolida oficialmente, mas contra o preconceito não houve decreto, não houve lei...


João da Cruz e Sousa ouve a saudação dos amigos, até entende sua intenção de evitar-lhe uma situação constrangedora, mas fita-os com olhos tristes, como se pensasse: “Canalhas!” Tanto mais que, próximo ao grupo dos amigos e fiéis admiradores, encontra-se um rosto estranho, que o observa com olhar curioso, o que chega a ser irritante... Quem é esse homem desconhecido, que perscruta o poeta? Seria mais um dos seus contendores, provocadores, mais alguém prestes a repudiá-lo abertamente nos jornais?


Toda sua vida fora, até então, permeada por essa mesma sensação de discriminação, de rebaixamento. Até o modo afetivo como alguns de seus “seguidores” a ele se referem – o Poeta Negro – parece um estigma. Ninguém diz “poeta branco”. No Brasil escravocrata, “poeta” e “negro” são elementos que não se casam, indicam uma verdadeira aberração... Mas a dor de ser discriminado pode não ser muito diferente da grande Dor de ser homem.


Qual é a cor da minha forma, do meu sentir? Qual é a cor da tempestade de dilacerações que me abala? Qual a dos meus sonhos e gritos? Qual a dos meus desejos e febre?


Uma revolta amargurada o paralisa e, por algum (quanto?) tempo, suas atenções se deslocam do exterior, da confeitaria, do constrangimento, das amarras sociais, para o interior, sua alma, presa num cárcere severo. Às vezes é preciso invocar o ódio para suportar a dor:


Ò meu ódio, meu ódio majestoso,


Meu ódio santo e puro e benfazejo,


Unge-me a fronte com teu grande beijo,


Torna-me humilde e torna-me orgulhoso.


(...)

O poeta lembra-se de que sempre precisara de um escudo. Podia ser o Ódio. Podia ser a crença em si mesmo, na própria sensibilidade superior. Podia ser a Dor. O desdém pelos chamados “detentores” do poder e do saber, o desprezo pelos ditadores de regras. Podia ser a Arte, esse escudo, esse Broquel: esses Broquéis.
 
 
Para ler mais, consultar a fonte abaixo.
 
Fonte: http://www.vidaslusofonas.pt/cruz_e_sousa.htm

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